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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Lenda dos meninos

Lenda dos meninos de Alfange
se o caso por volta de 1277 e teve o testemunho de Frei Bernardo de Morlans, umfilho da melhor nobreza da Gasconha, que para aqui veio pela mão de S. Frei Gil.
Tal fama granjeou que as famílias mais nobres da vila lhe confiaram seus filhos, não só para o ensino das primeiras letras, como ainda para a sua mais cuidada formação moral.
Dois destes meninos, que eram irmãos, assistiam-lhe continuamente como seus discípulos, dizendo a tradição que ambos andavam vestidos com o há-bito de S. Domingos, por devoção de seus pais e depois de ajudar à missa iam para a capela da Senhora do Rosário em que estava o famoso Menino Jesus dos Milagres. Ali se sentavam e estendiam a merenda.
Até que um deles se lembrou de levantar os olhos para a imagem e de perguntar ao celeste bambino se queria merendar com eles.
Acontece que o Menino, descendo dos braços da Virgem Mãe, aceitou o convite e fez-se hóspede e companheiro dos meninos.
Daqui a contarem o milagre às senhoras suas mães não foi mais que um passo, pedindo os educandos que lhes acrescentassem as merendas, tanto mais que tinham para eles um convidado de categoria...Era de esperar que a acolhida materna fosse um tanto céptica, senão suspeitosa de lambareira intenção, qual seria a de haver gula e ludíbrio a mais na requesta.
Daí se abrirem os pasmados fedelhos com seu mestre Frei Bernardo, a quem deram conta do sucedido. Também este não queria crer no que ouvia, até que, persuadido pelas emocionais narrativas e concludentes circunstâncias e queixando-se os petizes de que o seu divino conviva se não lembrasse de re-tribuir, nem de os convidar, teve a sagaz lembrança de lhes insinuar que, tornando o Menino a ser seu hóspede, lhe segredassem que bem gostariam eles e seu mestre de cear, um dia, em casa de seu Pai.Numa segunda-feira, antes da Ascensão, se deu o lance para o qual os pequenos se muniram de todaa coragem e audácia. Mal o celeste bambino desceu do regaço materno emeteu o lábio nos saborosos queijinhos de ovelha, cuja nevada polpa não fazia mancha na brancurado linho da toalha, estendida no supedâneo do altar, logo eles a inquirirem se os queijinhos do Céu não seriam, por acaso, melhores...A deixa era de aproveitar. E daí a debitarem o sermão encomendado por Frei Bernardo não foi mais, por certo, que duas sôfregas dentadas.
Não mostrou Jesus surpresa pelo desplante dos garotos.
Antes prometeu que daí a três dias lhes havia de dar um solene banquete em casa de seu Pai.
Suponha-se a confusão de Frei Bernardo, ao rece-ber a notícia da boca dos seus rapazes, quando estes, num alvoroço sem limites lhe deram conta do recado.
O nobre gascão, agora humilde sacristão dos dominicanos, visionava qual seria o banquete e tratou de se habilitar também ao convite. Sacando dos argumentos da escolástica e recorrendo aos silogismos da pragmática, lá foi dizendo aos discípulos que tornassem ao miraculoso altar e dissessem ao Menino que, trazendo eles o hábito de S. Domingos, não podiam deixar de observar as regras da Ordem.
Ora não indo os noviços a parte alguma sem a companhia do Mestre, logo, Frei Bernardo tinha de provar também da celestial lambarice...Sorriu-se o Menino Deus da lógica dos suplican tese da santa manha do mestre, inspirador da dili-gência. Logo lhes respondeu que à mesa de seu Pai havia sempre lugar para mais um e que se desse também por convidado o santo varão.
Não coube em si de contente, rejubilando com o aprazimento divino. Feita barrela geral das suas culpas, outro tanto cuidou da alminha inocente dos discípulos, prevendo o que lhe iria acontecer, para além da vida terrena. Quinta-feira de Ascensão, eis a postos os três dasanta conjura. Acabado o ofício da missa conventual, enquanto a comunidade se dirigia para o refeitório, abre-se Frei Bernardo com os pequenos, e segreda-lhes a fatal intenção do convite de Jesus.
Em face das portas da Eternidade que se lhes estão abrindo, anima-os, conforta-os para que eles não fraquejem no transe final. E posta a maior diligên-cia em tudo, reveste-se o frade dos paramentos e oficia no mesmo altar das merendas, dizendo missa, com estes a servir de acólitos e dando-lhes, porfim, a comunhão. Entre eles ficou, de joelhos, todos três de mãos erguidas, olhos postos no Menino. E ali esperaram a feliz hora - esses que haviam de ser chamados às bodas eternas e logo renderam suas ditosas almas ao Senhor que consigo os levou a casa de seu Eterno Pai, a gostarem por toda a eternidade do imortal banquete para que foram convidados.
Assim os encontrou a comunidade quando veio dar graças, os corpos direitos, de joelhos, com as mãos levantadas, e os olhos postos no Céu, que pareciam estar mostrando o lugar para onde as suas almas gloriosamente tinham voado. Seus corpos de tal sorte ficaram que não pareciam desanimados, mas que estavam em êxtase de elevada contemplação.
Estranhando a prolongada oração, chegara-se aos imobilizados corpos e, ficando atónitos, descobriram que a alma se lhes tinha ido para sempre.Bibliografia: Zeferino Brandão, Monumentos e Lendas de Santarém, Lisboa,David Corazzi – Editor, 1883.Virgílio Arruda, Santarém no Tempo,3ª edição – Santarém, Câmara Municipal, 1999.

Curiosidades Frei Gil

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Mercedes